Uma agradável carona

Uma agradável carona Joseph amou Marie loucamente, desde o primeiro dia que a viu no ônibus. Ela transmitia uma alegria contagiante, um olhar doce e meigo, uma beleza natural. Marie alegre e radiante, tinha amigos e amigas, parece que paquerava com alguém no ônibus que os levava para a faculdade. Joseph lia, dormia, bebia, usava a mesma calça surrada. Joseph sabia que não teria muita chance, aliás, o seu jeito sem jeito, tímido, malvestido, de pouca conversa, limitada a alguns amigos de sua turma de faculdade, serviram para não arrumar ninguém ao longo dos cinco anos que estudou. Acontece que um dia, Marie sentou-se do lado de Joseph, pois as outras cadeiras estavam ocupadas e começaram a conversar. O tempo de viagem propiciava uma boa conversa. Descobriram-se afins em muitos assuntos, gostavam da mesma música, de teatro, jogar conversa fora. Marie tinha uma imagem de Joseph construída por conversas de amigos comuns, mas a imagem que encontrou com a conversa, foi outra. Ao longo do ano, passaram a sentar um ao lado do outro, estavam ficando cada dia mais próximos e, rolou um beijo. Inocente, mas causador de intensas sensações. Começaram a sair juntos, ele a frequentar a casa de sua família, ela, idem. Trocaram telefonemas, cartinhas, bilhetinhos, doces. Joseph se formou dois anos antes de Marie e casaram um ano após a formatura dela. Vieram os filhos, a felicidade, as viagens, as festas com amigos, família, sempre juntos. Passaram dificuldades, momentos duros, mas sobreviveram. Completam-se ao longo dos anos. Cabelos embranquecendo ou caindo, os corpos se fragilizam com o romper dos anos. Joseph e Marie, um caso comum, mas especial. Quem os vê sempre juntos, acreditam na perenidade. As mãos flácidas e trêmulas se entrelaçam como há muitos anos atrás. Os olhares são firmes, desde quando Marie pediu para sentar na poltrona vaga. Cumplicidade e magia se entrecortam, são complementares, como dia e noite, sol e lua, inverno e verão. Sentir a falta da pessoa que ama, é sentir o preenchimento do vazio, a liga nos tijolos na casa em construção, o arremate naquela pincelada de um quadro que ficará marcado, enfim, pensar, construir, pintar, ocupar, arrematar, legitimar, transpor, eclodir, arfar, chorar, sorrir, enroscar, cobrir. Poltronas vazias são feitas para serem ocupadas pelo carinho, pela ternura, pelo amor. Joseph encontrou a ocupante da poltrona vazia do seu lado. Marie sentou-se ao lado da pessoa que viveria a seu lado. Duas poltronas preenchidas naquele ônibus que os levaria para a felicidade. Marcos Tulio

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