CORREDOR

CORREDOR

Esqueci sua fisionomia por cima do armário.
Um armário que fica bem escondido no fundo,
debaixo da escada sinuosa.
Para se chegar até lá, é preciso afastar as caixas com roupas velhas.

Esqueci a sua presença naquela gaveta que não se abre mais,
enferrujada, ruidosa,
cheia de poeira.
Para acessá-la, superação para reencontrar a caixa das lembranças.

Partilho em minhas memórias,
fragmentos de sua convivência.
Estilhaços de uma recordação que perfuram,
penetram, rasgam, cortam.
Para evitá-los, a capa protetora de uma nova convivência.

Seja no sombrio do armário escondido,
ou na insinuosa escada e nem mesmo na gaveta enferrujada,
não mais a vejo.
Para evitar a tortuosa presença/distância, fecho os olhos.
Esqueço.

Marcos Túlio