Sudão do Sul: um novo país, um velho problema

Sudão do Sul: um novo país, um velho problema


Por: Flavio Aguiar



Salva Kir, leu seu juramento no sábado. O hino sulsudanês, escolhido através de um concurso nacional, fala muito na ajuda de Deus. O novo país vai precisar (Foto: Thomas Mukoya/Reuters)

Desde o fim de semana passado o mundo tem um novo país: o Sudão do Sul, desmembrado do Sudão depois de um plebiscito em que 99 % da sua população votaram a favor da sua independência.

Houve a cerimônia formal da inauguração do novo país em Juba, a nova capital, com a presença dos dois presidentes: Salva Kiir, do Sudão do Sul, e Omar al-Bashir, do Sudão.

O antigo Sudão é uma herança do Império Britânico, que reuniu sob a mesma administração duas regiões inteiramente diversas. A primeira, ao norte, é do tipo saariano (do deserto do Saara), que termina, a leste, por ali. É predominantemente árabe e muçulmana. A segunda, ao sul, é do tipo subsaariano, um verdadeiro cadinho multicultural de etnias e línguas, de religiões anímicas (como se diz).

Sempre houve conflito entre as duas regiões desde a data da independência do Sudão, em 1956. O sul sempre se considerou oprimido pelo norte. O conflito desandou em guerra civil, que durante vinte anos (pelo menos) devastou o país, deixando um saldo de 1,5 milhão de mortos e vários genocídios.

Na cerimônia da independência inaugurou-se uma estátua do “pai da nova pátria”, John Garang de Mabior. Garang, como é conhecido, foi o principal líder do Exército Popular de Libertação do Sudão, que lutou contra o governo de Cartum, a capital do norte. Em 2005 firmou-se um acordo entre as partes, em que Grang tornou-se o Vice-Presidente da então “administração do sul”. O acordo previa, entre outras coisas, a realização do plebiscito sobre a secessão sulina.

Curiosamente, Garang era contra a separação. Dizia “lutar pelas populações empobrecidas de todo o Sudão”. Mas poucos meses depois da assinatura do acordo ele morreu numa queda de helicóptero, quando voltava de uma misteriosa visita à vizinha Uganda, cujo objetivo até hoje é desconhecido.

Sua morte removeu o último obstáculo à independência do novo país, que acabou se processando num clima relativamente pacífico, em que pesem novos e recentes conflitos em torno de regiões fronteiriças e economicamente mais ricas do que a média. O Sudão do Sul possui reservas petrolíferas e é considerado adequado para a agricultura.

À cerimônia de independência esteve presente o Secretário de Relações Exteriores do Reino Unidos, William Hague, representando o Primeiro Ministro David Cameron. O novo país foi prontamente reconhecido pelos Estados Unidos. Esses dois fatos representam tanto uma boa acolhida ao Sudão do Sul quanto a permanência de um velho problema, com a sombra das duas potências pairando sobre ele.

O hino sulsudanês, escolhido através de um concurso nacional, fala muito na ajuda de Deus. O novo país vai precisar.

(Extraído da Rede Brasil)

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