As inovações tecnológicas e os acidentes de trabalho

As inovações tecnológicas e os acidentes de trabalho

Vivemos um século de profundas mudanças. Mudanças nas relações sociais, na política, na estrutura de poder mundial, na economia, enfim, um século que tem apenas uma década, mas que promete ser de profundas e rápidas transformações. As novas tecnologias vieram para facilitar a vida das pessoas, seja no campo da ciência, no lazer, na escola. A todo momento nos deparamos com alguma novidade tecnológica.
O capitalismo mundial passa por diversos ciclos, conforme Marx, o último de crise que vivemos, foi em 2009 e de caráter global. Mas o sistema, também se reinventa, das várias fases em que passou, essa última, a da revolução tecnológica é a que mais avançou em relação à produtividade. Portanto, há uma inversão da prioridade no desenvolvimento do capitalismo, do desenvolvimento produtivo da força de trabalho para a tecnologia a serviço do aumento da produtividade.
Mas não só no campo da tecnologia que as transformações se deram, os modelos de gestões nas empresas também se transformara. Do modelo fordista, que predominou por muitos anos,de característica centralizadora na gestão, passando pelos programas de qualidade nos anos 90, chegando aos níveis atuais, onde se descentralizou os níveis de poder, aumentou a integração das tarefas,as atividades tornaram-se mais flexíveis, gerando um aumento exarcebado da produtividade da atividade econômica.
E o que essas transformações tiveram a ver com a saúde do trabalhador? Tudo, pois, apesar das facilidades que a tecnologia trouxe para a sociedade, nas relações de trabalho o que se vê em muitos casos, são práticas de gestão totalmente autoritárias. O trabalho passou a ser visto não como parte da vida do homem, mas o tornou dependente dele. O trabalho está coisificado, desumanizado. Despreendemos até 2/3 de nossas vidas para trabalhar, porque hoje, além da jornada, que está muito acima do permitido, há um grande tempo no deslocamento e o pior, a cada dia que passa o trabalhador está levando o serviço para se fazer em casa. Portanto, aquela clássica separação do século XIX, onde os trabalhadores lutavam por 08 horas de trabalho, 08 de lazer e 08 de descanso, está se perdendo.
Aí que entra em cena os acidentes de trabalho. Há uma escalada volumosa e silenciosa no número de acidentes de trabalho. Há uma relação direta entre, prática de gestâo autoritária, passando pelos diversos tipos de assédio, produção flexível, falta de informações aos trabalhadores, aumento da intensidade no trabalho, repetição, monotonia, cobrança excessiva por resultados e metas, rotatividade, com o aumento no número de acidentes. Só em 2009, gastou-se mais de 2 bilhões de reais com as LER/DORT no Brasil. Há uma escalada volumosa das doenças do trabalho de natureza mental, como depressão, que representa 52% dessas doenças, alcoolismo, drogas, fadiga mental e que ainda o poder público não conseguiu mensurar.
Tem que se deixar claro nessas linhas que inovações tecnológicas não produzem acidentes,mas a prática de gestão autoritária sim. O movimento sindical não pode ser um coadjuvante nesse debate, tem que exercer o papel de denúncia das mazelas e ser mais propositivo. Por isso nas campanhas salarias, o tema saúde é imprescindível e tem que ser um dos maiores eixos das pautas de reinvindicações. Mas é preciso ir além, cobrando do poder púbico medidas de coerção às empresas que adotam esse tipo de postura desumanizadora nas relações de trabalho. Por exemplo, fazendo mudanças na legislação em relação à Participação nos Lucros, pois geralmente, o lucro obtido por várias empresas, veio acompanhado de redução drástica nos custos de mão-de-obra, precarização e aumento nos acidentes de trabalho. É urgente que se mude o papel das CIPAS, transformando-as em Comissões do Trabalho, onde essa comissão faça uma análise integral do conceito de trabalho e que a mesma tenha autonomia para propor mudanças nos locais de trabalho. Para isto, é preciso que se dê garantias aos trabalhadores na participação nessas comissões, tipo estabilidade no emprego, direito às informações gerenciais, poder fiscalizatório entre outros.
É urgente uma mudança drástica nesse quadro, não podemos conviver com o triste número de 410 mil acidentes e/ou doenças de trabalho por ano no Brasil, com 3 mil mortes anuais e um custo para a sociedade de 32 bilhões de reais por ano. Não podemos assistir passivamente a esse cenário de mortes,mutilações, rejeições diversas. Não há que se falar em importância de papéis nessa jornada contra a coisificação da vida e a bestialização do trabalho. Todos somos importantes.

Marcos Túlio

Comentários

  1. O homem evoluiu em tecnologia, isso é fato. No entanto, tal evolução aconteceu sem devidas preocupações com o desenvolvimento sustentável. Adquirimos novas tecnologias com a mesma velocidade que desfazemos de equipamentos eletrônicos usados (lixo digital).

    Fábio Junio

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