Viva Paulo Freire!

Estado, enfim, anistia Paulo Freire
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27/11/2009
O Estado brasileiro pediu oficialmente desculpas, ontem, a Paulo Freire. A Comissão de Anistia reconheceu post morten a condição de anistiado político do educador pernambucano e concedeu indenização de R$ 100 mil à viúva Ana Maria Araújo Freitas, a título de reparação econômica por pela prisão ilegal e os 16 anos de exílio do professor. A decisão foi aplaudida pelas mais de mil pessoas que lotaram o auditório do Centro de Convenções de Brasília, onde se realiza o Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, e saudada, em Manaus, pelo presidente Lula.
“Anistiar Paulo Freire é libertar o Brasil da cegueira moral e intelectual que levou governantes a considerarem inimigos da pátria os educadores que queriam libertar o país do analfabetismo”.
O julgamento aconteceu na 31ª edição da Caravana da Anistia, prática adotada pela comissão para dar mais visibilidade ao processo e envolver especialmente os jovens no resgate da memória política do país. O Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica – que reúne mais de 15.000 estudantes, educadores e gestores públicos das áreas de Educação e Trabalho de 16 países – foi escolhido, de acordo com o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abraão, para destacar que, mais do que ao homem e à sua família, a violência da ditadura militar contra Paulo Freire alvejou a crença na educação como processo de libertação e cerceou a centenas de milhares de brasileiros o direito de ler e escrever em sua própria língua.
“Este é um dos prejuízos mais severos e imensuráveis que a ditadura militar legou ao Brasil. Que este ato de pedido de desculpas aos familiares de Paulo Freire colabore para a disseminação e a revalorização da sua pedagogia da esperança, popular e libertadora”, exortou Abraão.
Quando foi cassado e expulso do país, em 1964, Paulo Freire começava a implantar o Programa Nacional de Alfabetização, que deveria universalizar a experiência-piloto realizada na cidade potiguar de Angicos. Com o uso uma metodologia própria e revolucionária que partia do contexto social e utilizava o universo vocabular dos alunos – hoje método Paulo Freire, adotado em mais de uma centena de países – Freire conseguira alfabetizar 300 agricultores em 45 dias. Se o programa não fosse interrompido, certamente o país não conviveria hoje com 16 milhões de analfabetos e 30 milhões de analfabetos funcionais (que dominam os princípios básicos da escrita, mas não têm capacidade de compreensão de textos).
Além do resgate da metodologia e da filosofia de educação de Paulo Freire – que dá nome a mais de 300 escolas, a maioria em assentamentos rurais – a anistia pode lançar luz sobre muitos fatos ainda ocultos da história do período militar. Paulo Abraão informou que o Comitê de Anistia pretende utilizar o fato de a “experiência de Angico” ter sido financiada pelo governo americano, através do projeto MEC-USAID, para solicitar informações e documentos guardados nas agências de inteligência daquele país.
“O Chile já fez isso e descobriu que os americanos sabiam mais sobre a ditadura chilena do que os próprios ditadores”, comentou Abraão. O Brasil já trabalha em cooperação com outros países da América Latina, especialmente o Chile, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, para reconstituir a história do período de ditaduras militares na região, mas ainda está muito atrasado em relação a eles. Paulo Abraão confia que a Política Nacional de Anistia, que deve ser aprovada em breve pelo Congresso, e a instalação do Memorial da Anistia, que concentrará os documentos do período militar e sediará um centro de estudos e pesquisas sobre o tema, vão acelerar o resgate da história recente do país

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