Blog do Dieese

“Mas quem é que vai te pagar pra você ficar contando estrelas, filho ? Você não acha essa sua ideia de ser físico meio maluca? Afinal de contas, o que é que significa ser cientista? É ficar pensando no mundo, dando aulas na universidade? É isso? É esse o futuro que você quer ? Coisa de sonhador, isso sim !”

Foi o que o pai de Marcelo Gleiser disse quando ele teve coragem de lhe contar que havia decidido se transferir do curso de engenharia quimica para o curso de física.

“Meu pai, um excelente dentista, queria que eu aplicasse meu interesse pela ciência em coisas mais concretas, mais práticas, do que o estudo do universo, das estrelas, dos átomos e coisas ainda menores do que eles. Pois é, meu pai achava que eu devia cursar engenharia: “ o Brasil precisa de engenheiros”, dizia. E, na visão dele, ser cientista era uma escolha meio arriscada para meu futuro profissional.”

O problema não era a engenharia, mas o que Marcelo queria fazer da sua vida.

Ele conta que desde criança perguntava como era possível existirem tantos animais no mundo. “O que determinava quantos animais podiam existir na terra ? Será que existiria alguma explicação para isso? A coisa foi ficando mais interessante quando descobri que não foi sempre que existiram os animais ou mesmo a Terra. Ou seja, tudo o que existe, das montanhas e oceanos aos animais, e até o próprio mundo, tem uma história com começo, meio e fim. Essa foi a revelaçao mais importante da minha vida. Se tudo tem uma história, talvez seja possível descobri-la. Como surgem e desaparecem os animais, os planetas, as estrelas e mesmo o Universo que contém tudo o que existe ? O que pode ser mais fascinante do que passar a vida tentando decifrar esses mistérios ? Era isso que eu queria fazer quando crescesse. Concluí que é inútil tentarmos ser o que não somos.”


Marcelo Gleiser O livro do cientista. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2004: 11-14
(Marcelo Gleiser é físico e astrônomo, pesquisador, professor e cientista)

Pode ser que viver essa experiência com 18 anos, recém saido do colegial, seja diferente de viver depois de uma trajetória de trabalho e de vida onde o trabalho chega antes que a necessidade de ir pra escola. Estudar a gente sempre pode, mesmo sem escola. Aprender a gente sempre aprende mesmo fora da escola. Portanto a escola superior aparece num momento das nossas vidas como possibilidade, não como obrigação. E envolve escolhas.

Que significados tem essa escolha? O que queremos ser? O que determina essas escolhas? O que isso tudo nos faz pensar?

Extraído do blog: Entremeios

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