Efeitos da Primavera

EFEITOS DA PRIMAVERA


Balanço, nervoso, a rosa amarela e trêmula em minhas mãos,
solto suas pétalas devagar, mas ansioso,
cada pedaço que cai, remete ao tempo,
se cai com o seu lado mais vistoso, um futuro desejável,
se mais ofuscado, um passado que não quero lembrar.

Num banquinho sentado à beira do ipê,
giro por 360, o caule espinhoso.
E na contagem das pétalas ao chão,
um relógio mental, conta as passadas do ponteiro de nossas vidas.

Cuoco, cuoco, cuoco,
dispara em meus tímpanos, a letargia que me assola.
O ponteiro segue o curso da vestimenta da amarelada rosa.
Está pálida, balbucia algo indecifrável,
Mira no meu olhar perdido e não o encontra.

Uma chuva fina teima em gelar meus dedos,
por entre eles, o talo cheio de espinhos,
a tentar ferir um dedo já imobilizado.
Do ipê, que por sinal combina com o vestido da rosa,
farfalham folhas já cansadas pela produção da clorofila.

Rodopio o caule já nu, um ponteiro grande teima em martelar-me,
olho para cima e o céu dá sinais de esplendor,
parece que a primavera está chegando.
Encontro vidas desejosas de amor,
por onde toco.

Mas apertando a tecla de retrocesso,
as amarelas pétalas, não caem para contar o tempo,
mas para significar mais vida.

Marcos Túlio

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