Mulher do Saco

MULHER DO SACO


Loucas, loucas, tu és.
Destrambelhada, descabelada.
Arranhas a ti própria. Rasgas a roupa num ato de fúria.
Arrancas o cabelo em bruscos gestos.

Quando cessará o teu infortúnio?
Ranges o dente, espumas pelo canto da boca.
Enfeitiças o mais simples que te olha,
não possuis muita vaidade.

Tens apenas um colar herdado de tua avó,
que balança no lá e cá como tua vontade de viver.
O cabelo não é muito cuidado e tuas unhas estão sem cortar.
O sorriso é raro e os dentes amarelos.

Bruxa, feiticeira, dona da lata, senhora do saco.
Crianças atiram pedras e insultos.
A sociedade te exclui.
Mas não a conhecem.

Perderas um filho quando nova,
O marido a trocou por outra.
Tentou um emprego sem sucesso,
martirizada pela vida, deprimiu-se.

As ruas foram teu alento e as marquises o lar.
Deveras, a falta de carinho e acolhimento
a fizeram um tanto amargurada.
Chora pelos cantos da cidade e precisa de muito carinho.

Quer viver. Teus olhos transmitem isso.

Marcos Túlio

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