Gravidez

GRAVIDEZ

Espero a criança nascer. Espero.
Com um olhar sustentado no infinito.
É um misto de tristeza e alegria.

Não sei o que será de meu rebento.
Espero uma luz no fim do túnel que é utópico.
Uma criança chora pelo destemido temor de nascer.
Há contrações.
Uma dor prazerosa me aflige.

A bolsa da vida está para se arrebentar.
Meu corpo todo dói à espera de uma menina chamada esperança.
Meu corpo todo se contrai com esse porvir. Um menino, chamado desejo.

Sim. Espero.
Uma esperança linda, graciosa,
cheia de charme,
a conquistar o mundo com sua possibilidade de mudança.

E o desejo?
De cabelos penteados, perfumados,
a quebrar com um sorriso este mundo de injustiça.
Meus filhos serão libertadores de toda forma de exclusão.
Combaterão com afinco as iniqüidades.
Irão para as ruas a pedir mais dignidade.

Espero um luar brilhante.
Pessoas se amando cada vez mais.
O carinho dos amigos.
Comer pipoca no cinema, passear pela praça, visitar os pais.
Espero continuar isso tudo.

A bolsa da vida está para romper.
Estou aflita, ansiosa, feliz. Mas, cheia de dúvida.
Como será este mundo para os meus filhos?
Eles chegarão a ver o beijo apaixonado dos truculentos a buscarem o diálogo?
Verão uma paz verdadeira?
Um mundo de oportunidades para todos, sem discriminações?
respeitador das pessoas, provedor do pão tão necessário aos que passam fome?

Sim. Espero. Meus olhos lacrimejaram, a vista enevoou.
A vida venceu.

Marcos Túlio

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