Comentários a respeito do livro: A Classe Operária tem Dois Sexos

Comentários a respeito do livro: A Classe Operária tem Dois Sexos Em 1991 é lançado o livro, pela Editora Fundação Perseu Abramo, “A Classe Operária tem Dois Sexos” de Elisabeth Lobo, uma grande socióloga que nos deixaria, infelizmente, naquele mesmo ano, vítima de acidente de carro. Nesse livro, Elisabeth aborda importantes questões sobre a discriminação de gênero no mercado de trabalho brasileiro. Através de pesquisas realizadas na década de 1980, Lobo traz importantes reflexões com reflexos até os dias de hoje. A autora aborda temas como as práticas e discussões das operárias, gênero no trabalho, a luta das mulheres e o movimento social, entre diversos outros temas. Em divisão sexual do trabalho, são abordados temas como a relação de poder entre homem e mulher, a esfera produtiva e a esfera reprodutiva, a apropriação pelo homem das funções “com maior valor adicionado” (politico, religioso, militar) e como a maior inserção no mercado de trabalho trouxe novas configurações nessa relação patriarcal laboral, que é a substituição do modelo homem-provedor/mulher-dedicada. A quebra dessa cultura machista, está se desenrolando com o passar dos tempos, muito em função de muita luta e organização das mulheres, então o ambiente fabril, predominantemente masculino, explorador e longevo, começa a ruir. Nesse processo de aumento da participação feminina no mercado de trabalho, o que se colhe desse avanço, infelizmente, é que as diferenças continuam e o visível e o invisível nessa relação, se ampliam. O visível é a remuneração mais baixa, a discriminação no emprego, o assédio, mas o problema é a negação desse processo excludente ocultando assim, as diferenças gritantes de gênero. E nesse oculto, temos a justaposição entre divisão social e divisão sexual do trabalho, a flexibilização das atividades masculinas e a taylorização das atividades femininas, a exposição do trabalho feminino à posturas mais forçadas, quando esse trabalho é considerado “mais leve”, não havendo limites para isso. Ainda temos uma grande participação nos trabalhos repetitivos e precarizados e ainda, a hierarquização do trabalho por sexo, refletindo numa menor remuneração. Observa-se ainda, um nexo entre o papel das mulheres no trabalho reprodutivo realizado no espaço privado e o trabalho produtivo. A baixa remuneração e a dupla jornada indicam que as mulheres representam uma motivação pela sobrevivência do que a luta pela autonomia. Essa discriminação atravessa fronteiras geográficas, culturais e regionais. Mas a luta das mulheres ao longo da história permitiu a quebra, mesmo que parcial, dessa barreira. O aumento considerável da escolarização, a participação massiva no mercado de trabalho, além dos novos arranjos tecnológicos e de gestão têm ajudado a desconstruir a divisão sexual do trabalho. Mas essa luta histórica, de certo modo, foi colocada como papel secundário no contexto amplo da luta dos movimentos sociais. E quando tentam separar a luta pela igualdade racial e a luta pela igualdade de gênero, rebaixa em muito, a importância histórica da luta das mulheres. Por fim, Elisabeth trata da prática e do discurso no movimento sindical. O que a autora aponta que, o movimento sindical, em grande parte da sua trajetória, foi dominado por homens. O discurso masculino carregado de agressividade, imposição, ameaça, destinava a revelar força, combate. Ainda havia o componente cênico, a voz forte para atemorizar os adversários e estimular os simpatizantes, tudo isso contribuiu em reduzir o número de dirigentes mulheres. Em pesquisas, notava-se a baixa participação de mulheres casadas nas atividades sindicais. Também no movimento, era comum ouvir frases tipo: “mulheres não têm práticas na política”, ou ”homens capa e mulheres massa”, “mulheres não controlam palanques” e assim por diante. O movimento sindical é reflexo do mercado de trabalho, ocorre então, uma divisão sexual do poder e infelizmente, apesar da luta de classe não possuir gênero, o machismo prepondera e aí o sexismo na luta é a prática. Mulheres que vão para as atividades sindicais, são “fáceis”, “mal casadas”, “adoram uma aventura”, “não são bonitas” e no tempo em que militei no movimento sindical (que foram muitos anos), percebia muito esse tipo de tratamento com as companheiras lutadoras. Mas o alento e Elisabeth Lobo vislumbrava lá em 1991, é que tudo isso poderia mudar, o que ocorreria, por exemplo, com a conquista de várias secretarias de gênero em entidades sindicais, não como apêndice ao poder masculino sindical, mas construtoras de pautas e conquistas, como o direito à creche, a diminuição da diferença salarial, o aumento da sindicalização das mulheres, a revitalização do movimento sindical, a quota nas direções e nos congressos, plenárias, a licença maternidade de 180 dias, a diminuição do assédio, entre outras. Mas há muito que conquistar, para chegar à igualdade plena. O movimento sindical precisa ter seu olhar feminino na luta, não cabe mais às mulheres um papel secundário nessa história, principalmente agora, que setores oligárquicos tomaram de assalto um governo eleito e legítimo e tentarão impor uma agenda ultraliberal de retirada de conquistas históricas e as mulheres deverão dar o tom nessa resistência. Elisabeth Lobo nos faz falta. Marcos Túlio

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