EDUCAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO - São complementares ou se afastam?

EDUCAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO - São complementares ou se afastam? Ao longo de 30 anos, escuto que o nosso ensino, principalmente o superior, só se preocupa em formar cidadãos e cidadãs para o mercado de trabalho, sem buscar a formação humana desses trabalhadores. Essa constatação é um mito? Ou temos um ensino embotado pelo cientificismo? O certo, é que ao contrário do que se pensa, nos anos 1990 ocorreram uma precarização do ensino técnico - cientifico, com sucateamento das escolas técnicas e um abandono governamental, não preparando as próximas gerações para o que teríamos a partir de 2003, com um bom momento vivido na economia e a conseqüente carência de mão de obra qualificada para tocar as diversas obras que apareciam. As mudanças na estrutura do trabalho a partir do toyotismo, onde os trabalhadores e trabalhadoras, para se manterem no mercado de trabalho, se viram obrigados a buscarem uma maior qualificação, pois a introdução de novas tecnologias, apesar de positivas, acabou cortando muitos empregos. Todas essas mudanças no sistema produtivo, inovações, terceirização, diminuição de hierarquias, just in time, qualidade total, entre outras, levaram os trabalhadores a se modificarem. Passaram a ser polivalentes, multifuncionais, dotados de conhecimento de inglês e informática, aumentando a produtividade e consequentemente, as doenças e acidentes no trabalho. Essa polivalência tem mudado as relações de trabalho, novas formas de se realizar tarefas, como a de levar serviço para a casa, ainda não foram contempladas na organização promovida pelo movimento sindical. Muitas mudanças aconteceram nos últimos 30 anos, como globalização, alta velocidade das informações, o papel das redes sociais na sociedade, inovações tecnológicas, tudo ocorrendo a velocidades difíceis de acompanhar. Se por um lado, trabalhadores e trabalhadoras, têm buscado a formação acadêmica com mais frequência, principalmente pelo impulso dado pelo governo federal nos últimos anos, não posso afirmar que esse aumento de inscritos em faculdades, naturalmente, houve um aumento de estudantes com consciência critica que realmente exerçam a cidadania de forma plena. O que vejo colegas meus, universitários ou já graduados, sem um mínimo de noção de como é organizada nossa sociedade, com suas dicotomias e incertezas. Muitos reproduzem matérias de redes sociais, por exemplo, falando mal de algum político brasileiro, sem ao menos confirmar se aquela informação é verdadeira ou não. O que vejo, é uma pasteurização da noticia, uma vulgarização da informação, a banalização da fofoca e da chacota. Claro que são digressões a partir do meu ciclo de convivência e temos trabalhos científicos da mais alta qualidade, apesar do ainda incipiente apoio público à produção acadêmica, mas ao mesmo tempo em que aumentamos o número de inscritos nas faculdades, até que ponto formamos esses jovens para realmente assumirem o comando dessa nação, que patina, desliza, busca, às vezes sem sucesso, o caminho duradouro do desenvolvimento. Sabemos que boa parte da deficiência de qualidade do ensino superior é consequência do ensino médio também ser precário. Agora, tenho esperanças. A presidente Dilma, com muito acerto, elegeu a educação como prioridade de seu segundo mandato, inclusive mudando o lema de seu governo como Brasil, Pátria Educadora. O mercado de trabalho mudou, a economia mudou, as relações de trabalho mudaram, enfim, muitas mudanças aconteceram nos últimos 30 anos. Melhor acesso à educação, trabalhador multifuncional, globalização, velocidade da informação, redes sociais. Precisamos juntar todo esse caldeirão de mudanças e tirar um bom proveito, para seguirmos para frente enquanto Nação. Marcos Túlio Silva

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